Educação Sexual na Adolescência
A adolescência é o período em que a sexualidade começa a despertar. As transformações que o adolescente sofre são visíveis e são sentidas de forma muito especial por ele e pelas pessoas que o rodeiam. A Educação Sexual visa dar a conhecer e ensinar a compreender essas transformações.
A Adolescência
Quando começa?
O início do período da adolescência é, em termos de idade, muito variável. A adolescência começa com a puberdade, ou seja, com a entrada em funcionamento dos órgãos sexuais. Nas raparigas, isto acontece habitualmente a partir dos 10 anos, com o aparecimento da primeira menstruação. Nos rapazes, esta transformação ocorre a partir dos 12 anos, com a possibilidade da primeira ejaculação e coincidente aparecimento de pêlos axilares.
O que é?
A adolescência pode ser definida de várias formas:
- É o período da vida em que já não se é criança, mas ainda não se é adulto.
- É um período de transformações profundas, no corpo, nas relações com os pais e com as outras pessoas, e em muitos outros aspectos da vida.
- É um período da vida em que a sexualidade já é possível e a independência raramente é possível.
- É um processo de independência com todas as dificuldades e conflitos que os processos de independência implicam.
- É um período rico em ideias, experiências, sonhos, projectos.
A adolescência é, portanto, o espaço de transição entre a infância e a idade adulta e tem como limites a puberdade e a independência. É o conjunto de transformações na vivência do corpo e na consciência de si próprio, nas relações com os pais, os companheiros, os adultos e a sociedade em geral e na forma de encarar o futuro, desencadeadas pela maturação dos órgãos sexuais e pelo desenvolvimento físico e intelectual, que criam o ser adulto.
O período da adolescência tem tendência a ser cada vez maior, já que, por vários motivos, a puberdade acontece cada vez mais cedo e a independência, tanto social como económica, acontece cada vez mais tarde.
Adaptado de Educação Sexual Só Para Jovens, Ana Maria Allen Gomes e Nuno Miguel, Texto Editora, 2000
As principais transformações na adolescência
Transformações no corpo:
- O corpo cresce a um ritmo acelerado e, por vezes, desigual e desproporcionado. Nas raparigas, desenvolvem-se as glândulas mamárias e aparecem os pêlos púbicos e axilares. Nos rapazes, desenvolvem-se os órgãos sexuais, aparecem os pêlos púbicos, axilares e a barba e, em certos casos, acontece um ligeiro desenvolvimento das glândulas mamárias.
- Os órgãos sexuais entram em funcionamento. Aparece a primeira menstruação nas raparigas e a possibilidade de ejaculação nos rapazes.
- Dão-se algumas transformações muito variadas provocadas pelas hormonas sexuais, que começam a ser produzidas na puberdade. Nos rapazes, dá-se a chamada “mudança de voz”. Em ambos os sexos, a actividade hormonal dá origem ao aparecimento de acne, que normalmente desaparece passado algum tempo.
Transformações nas relações com os pais:
- Passa a existir menos tempo para a convivência com os pais.
- O adolescente tem uma maior dificuldade em contar coisas da sua vida aos pais.
- Há uma maior tendência para pôr em causa e questionar ideias e posições da família, ou mesmo o desejo de ser diferente.
- Passa a haver uma maior independência nas decisões.
- Por vezes, existe uma aparente indiferença ou mesmo hostilidade em relação aos pais.
Transformações nas relações com outros rapazes e raparigas:
- Manifesta-se o desejo de ser aceite pelos outros, o que se nota pela importância que o adolescente passa a dar ao seu aspecto exterior, nomeadamente no cabelo, no vestuário, na beleza e na força.
- É por esta altura que se criam as “grandes amizades” e que nasce o gosto pelas conversas intermináveis entre amigos.
- É também frequente a inserção em grupos mais ou menos definidos, compostos por rapazes e raparigas.
- É na adolescência que aparece a atracção entre rapazes e raparigas, as paixões, os namoros, etc.
Transformações nas relações com os adultos:
- Começa a nascer o desejo de ser reconhecido pelos adultos como pessoa com direitos e deveres.
- Começam a criar-se relações de grande confiança com um adulto, tornado confidente.
- O adolescente passa a sentir-se cada vez mais capaz de relacionar-se directamente com os outros e com as estruturas sociais sem necessidade de intervenção e protecção familiares.
Transformações na forma de encarar o futuro:
- O adolescente passa a ter uma maior preocupação com o futuro, aumentada também pela necessidade de tomar decisões e fazer escolhas ou de enfrentar dúvidas relativas à política e/ou à religião, etc.
- Acontece uma acentuação de desânimos, desistências e hesitações criadas pela frequente oposição entre as dificuldades e esforços de realização dos seus projectos e o desejo de gozar a vida, distrair-se, conviver.
- Há uma tendência para fazer grandes projectos irrealizáveis, mas também maior capacidade para realizar os seus projectos.
Adaptado de Educação Sexual Só Para Jovens, Ana Maria Allen Gomes e Nuno Miguel, Texto Editora, 2000
A sexualidade na adolescência
É durante o período da adolescência que a sexualidade se manifesta de uma forma mais clara e intensa e que se estabelece a ligação entre a sexualidade e a afectividade. Esta ligação existe de forma diferente nos rapazes e nas raparigas.
Assim, é a partir da adolescência que a sexualidade se começa a manifestar, através de:
- Sonhos sexuais
Os sonhos sexuais são todos os sonhos que representam uma situação sexual, mesmo que não seja uma actividade sexual perfeitamente clara. Estes sonhos são involuntários, como todos os sonhos, variam muito de pessoa para pessoa e são acompanhados de excitação sexual.
- Desejos e excitações sexuais
Os desejos e excitações sexuais aparecem nas raparigas habitualmente de forma menos intensa do que nos rapazes e estão geralmente relacionados com a sua vida afectiva. Nos rapazes, este tipo de sensações estão ligadas aos mais diversos estímulos e muitas vezes não têm qualquer relação com a vida afectiva.
- Fantasias sexuais
As fantasias sexuais variam muito de pessoa para pessoa e têm um papel importante na sexualidade de cada um.
- Masturbação
A masturbação é qualquer processo utilizado para a auto-excitação e o alcançar do orgasmo. Na maioria das vezes, é feita através do estímulo manual e ritmado das zonas mais sensíveis dos órgãos sexuais.
Ao contrário do que se pensava até há alguns anos, a masturbação não causa qualquer prejuízo físico ou psicológico ao organismo.
Nos adolescentes, a masturbação é uma forma possível de satisfazer o desejo sexual através do prazer da excitação e do orgasmo. Nos rapazes, ela é também uma forma de compensar a ansiedade, a insegurança e a frustração, pela “confirmação” da sua virilidade e potência.
- Relações sexuais
As relações sexuais são normalmente uma forma de expressão sexual do amor entre um homem e uma mulher, com introdução do pénis na vagina e execução de movimentos ritmados que aumentam a excitação e conduzem ao orgasmo.
Na maioria dos casos, os adolescentes iniciam a sua vida sexual pelas carícias mútuas e pela exploração do corpo do parceiro, deixando as relações sexuais propriamente ditas para mais tarde.
A decisão de ter ou não relações sexuais é bastante mais complicada para as raparigas do que para os rapazes porque implica uma série de dúvidas e receios relacionados com a relação afectiva. Pelo contrário, os rapazes não hesitam na sua decisão de iniciarem a sua vida sexual, não só pela força dos seus desejos, mas também para provarem a si próprios que são capazes terem relações sexuais e de satisfazerem uma rapariga e para terem a certeza de que as raparigas gostam mesmo deles.
Adaptado de Educação Sexual Só Para Jovens, Ana Maria Allen Gomes e Nuno Miguel, Texto Editora, 2000
Encarar a homossexualidade
A questão da orientação sexual é vivida com bastante intensidade na adolescência, não só pelas emoções e dúvidas que pode suscitar em cada um como pelas reacções dos pares - amigos, colegas… - e dos familiares mais próximos quando um adolescente assume a sua homossexualidade.
As relações homossexuais podem ocorrer num contexto de aprendizagem e experimentação. Não destinam à partida a orientação do futuro adulto. Apesar de as relações com parceiros do mesmo sexo poderem ter início no início da adolescência é muitas vezes no final deste período que as opções se tornam efectivas.
O adolescente tem de enfrentar não raras vezes, não apenas um sentimento de vergonha, como a discriminação e estigmatização social, os modelos que mesmo inconscientemente são impostos na sociedade, ou no seio da família, as reacções de rejeição ou mesmo de agressão (verbal e por vezes física)…
Se por um lado os sentimentos de tristeza e vergonha, uma auto-imagem negativa, o receio de desapontar os outros ou o receio de uma rejeição, podem levar ao isolamento ou à solidão, também uma atitude fortemente explícita, numa afirmação marcadamente exibicionista poderá acarretar não só a segregação como situações desagradáveis de confronto.
É importante que o adolescente conte com pessoas de confiança e procure aconselhamento em locais específicos. Apesar de, no geral, no quotidiano, os preconceitos face à homossexualidade tenderem a ser menos frequentes, ainda hoje é preciso lembrar que a homossexualidade não é uma doença ou fruto de uma perversão.
Mário Cordeiro, Professor de Pediatria, alerta: “não é por acaso que o risco de suicídio é muito superior para os adolescentes homossexuais, mesmo descontando outros factores do contexto social que possam também ser geradores de situações depressivas.”
Todos os jovens independentemente da sua orientação sexual, ao estabelecerem a sua identidade, num processo de maturação, partilham as mesmas etapas e correm os mesmos riscos, por exemplo em relação às doenças de sexualmente transmissíveis, como a infecção pelo HIV. Para além de todos necessitarem das “mesmas estratégias de educação para a saúde”, Mário Cordeiro lembra também que como minoria na sociedade adolescentes homossexuais “estão sujeitos a uma pressão social e a um ‘empurramento para a clandestinidade’ que pode trazer um menor acesso aos serviços, um maior desconhecimento da informação credível e de riscos e, também, um aumento dos problemas psicológicos e sociais, numa adolescência já pontuada por dúvidas, angústias e ‘duelos’ entre modelos de vida, de comportamentos, de relações e de concepções da sociedade”.
A gravidez na adolescência
As pesquisas apontam diversos factores na origem da gravidez indesejada na adolescência e que passam pela utilização incorrecta dos métodos contraceptivos, ou pela falta da sua utilização, pela carência de informações sobre sexo e gravidez por parte dos pais e por uma fraca escolarização.
A influência dos meios de comunicação, a repetição de padrões de comportamento, o desejo do parceiro pela gravidez, ou mesmo a necessidade de afecto das raparigas forçando, através da gravidez, o parceiro a assumir a relação são também factores apontados para a ocorrência de gravidezes na adolescência.
Portugal é um dos países europeus com maior número de gravidezes entre as adolescentes. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes a 2005, apontam para o nascimento de 5519 crianças concebidas por adolescentes (idades entre os 12 e os 19 anos).
Analisando o decréscimo de nascimentos no Pais, verifica-se que também o número de nascimentos diminuiu entre as jovens. No entanto, considerando apenas o grupo de adolescentes entre os 15 e os 19 anos, a descida relativa dos nascimentos não teve a mesma expressão em todas as idades compreendida. Constata-se um decréscimo de 51,5% no grupo entre os 17 e 19 anos, mas de apenas 38,8 nas no subgrupo das jovens com idade entre os 15 e os 16 anos.
Saliente-se ainda, segundo dados de 2005 da Direcção-Geral de Saúde, que em cerca de metade dos nascimentos em mães com idade inferior a 20 anos, os pais pertenciam ao grupo etário superior, com idades entre os 20 e os 24 anos.
Na análise da maternidade e da paternidade juvenis, os pais apresentaram, regra geral, um grau de escolaridade inferior ao das mães. Em particular, das mães com menos de 20 anos, cerca de um quinto terminara, no máximo, o 1.º Ciclo (1,7% não sabia ler nem escrever). No mesmo grupo etário, e segundo dados de 2002, os pais que estavam em iguais circunstâncias representaram um quarto do total (2,1% não sabia ler nem escrever).
O desenrolar da gravidez entre as adolescentes merece também algumas observações. De acordo com o estudo “Gravidez na Adolescência em Portugal”, de Margarida Tavares e Henrique Barros, de 1996, a prevalência de nascimentos de baixo peso, de partos pré-termo é superior nas adolescentes em relação às mulheres adultas.
Verifica-se que a gravidez na adolescência se relaciona particularmente com a presença de cuidados inadequados. Frequentemente as adolescentes desconhecem a existência de cuidados pré-natais, recorrendo também menos a consultas pré-natais.
Em Portugal, segundo as conclusões do estudo referido “as grávidas adolescentes apresentam características particulares que permitirão atitudes preventivas especificamente dirigidas a elas.” Não obstante, e ao contrário do que é referido “para outras populações com enquadramentos sociológicos distintos, as mães adolescentes e os seus recém-nascidos não apresentaram consequências biológicas imediatas diferentes das observadas nas adultas excepto para o parto pré-termo.”
A família é considerada como o espaço emocional privilegiado para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos saudáveis na área da sexualidade. É neste espaço que os adolescentes, no seu processo de maturação apreendem valores e modelam o comportamento. São sensíveis às reacções e comentários a histórias alheias que chegam, por exemplo através dos meios de comunicação; estão atentos e seguem os exemplos e percursos dos pais, irmãos ou outros familiares.
Nas escolas, a educação sexual faz parte da educação para a saúde e visa a redução de possíveis consequências negativas dos comportamentos sexuais, tais como a gravidez não planeada e as infecções sexualmente transmissíveis. A participação dos pais e dos encarregados de educação é tida como fundamental na implementação dos programas de educação sexual em meio escolar.
Mas apesar de uma aposta cada vez mais forte na educação sexual dos jovens, as estatísticas continuam ainda a evidenciar elevados índices de gravidez entre as adolescentes.
Face a uma gravidez indesejada, a adolescente vê-se obrigada a tomar uma série de opções, em relação à sua vida escolar, familiar e social, e ao futuro do feto. A interrupção voluntária da gravidez recentemente despenalizada, a adopção, a continuação da gravidez com ou sem o apoio do parceiro ou, por vezes, sem o suporte da família mais próxima, o planeamento de uma nova família com ou sem o pai da criança, são questões a ponderar naquela que pode ser uma revolução pessoal sempre com consequências para o futuro.
O apoio da família, bem como o aconselhamento médico e social, nos centros de saúde e hospitais, o apoio de instituições estatais ou particulares a jovens grávidas e mães adolescentes são recursos que existem. Averiguar e ponderar todas as possíveis ajudas, os recursos humanos e materiais de apoio, é essencial para o futuro daqueles que apesar de jovens se vêm inesperadamente a assumir responsabilidades de adultos.
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