Formação cívica nas escolas
Armanda Zenhas 2010-05-19
A intervenção de carácter punitivo ou com a forma de "sermão" não será a mais adequada a produzir mudanças e a modificar comportamentos. É importante que seja feito um trabalho de desenvolvimento de competências sociais...
O 6.º I entra na sala a correr. Os alunos dão encontrões uns aos outros, deitam livros ao chão, agridem-se, gritam. Até a turma acalmar, passam uns bons dez minutos de aula. No 8.º B, um grupo de alunos prega constantemente partidas de mau gosto a colegas escolhidos a dedo, que se sentem humilhados ou marginalizados, o tão falado bullying. Turmas como estas são a realidade quotidiana das escolas. Na resolução de todos estes problemas, ao director de turma (DT) cabe uma grande responsabilidade, acarretando um enorme consumo de tempo e de energia. Muito do seu tempo é também gasto em burocracias, como marcação de faltas aos alunos, recepção e análise das justificações, entrega de mensagens diversas para estes levarem para casa. Para estes fins, é indispensável haver um tempo previsto de encontro entre o DT e a turma/os alunos.Num momento em que se questiona a carga horária do 2.º e do 3.º ciclos do Ensino Básico e a existência das áreas curriculares não disciplinares, entre as quais a de Formação Cívica, faz todo o sentido reflectir sobre a pertinência da sua continuidade. Aquando da sua criação, a Formação Cívica era definida como o "espaço privilegiado para o desenvolvimento da educação para a cidadania, visando o desenvolvimento da consciência cívica dos alunos como elemento fundamental no processo de formação de cidadãos responsáveis, críticos, activos e intervenientes, com recurso, nomeadamente, ao intercâmbio de experiências vividas pelos alunos e à sua participação, individual e colectiva, na vida da turma, da escola e da comunidade." (Dec-Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro, art.º 5.º, ponto 3, alínea c). Por conseguinte, situações como as descritas acima encontram, nesta área, um espaço de eleição para serem trabalhadas e prevenidas novas ocorrências. É também o espaço de encontro entre o DT, que a lecciona, e os alunos, proporcionando o tempo (mesmo assim, frequentemente, escasso) para a resolução de tarefas burocráticas, como a justificação de faltas e o envio de mensagens para casa ou recepção de comprovativo de entrega das mesmas. Antes da existência da área não curricular de Formação Cívica, tal como ainda sucede no Ensino Secundário em que ela não existe, o DT precisava de "roubar" à sua disciplina o já insuficiente tempo para leccionar o programa, a fim de resolver com os alunos todos os problemas e tarefas relativos à direcção de turma, visto não haver qualquer espaço temporal comum para se encontrarem.Em cada turma, o conselho de turma pode ter um papel interventivo na definição de temas a tratar nas aulas de Formação Cívica, a partir da identificação dos principais problemas, da definição de prioridades e do estabelecimento de estratégias de intervenção. É essencial ainda que os professores, nas suas aulas, dêem continuidade ao trabalho feito na Formação Cívica.A intervenção de carácter punitivo ou com a forma de "sermão" não será a mais adequada a produzir mudanças e a modificar comportamentos. É importante que seja feito um trabalho de desenvolvimento de competências sociais, como, por exemplo: competências de comunicação (verbal e não verbal), de resolução de conflitos, de trabalho de grupo. É também fundamental que se procure desenvolver, nos alunos, a auto-estima, a autoconfiança, a assertividade e o sentido de responsabilidade.As actividades a utilizar devem envolver muito os alunos. Poderão ser jogos, debates, dramatizações, trabalhos de grupo. Eles devem sentir esta área, não como uma disciplina, mas como um espaço onde discutem e trabalham acerca de problemas e situações do seu quotidiano, onde aprendem a conhecer-se melhor e a relacionar-se melhor com os outros.
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