Distúrbios psicológicos na adolescência
Adriana Campos 2004-07-21
Estudos realizados em vários países mostram claramente que menos de um quinto dos adolescentes apresentam comportamentos indicadores de distúrbios psicológicos significativos
"Lisboa, 18 de Fevereiro de 1993
Querida Marta,
As últimas semanas foram uma espécie de deserto. Não li nada, não escrevi, não tive fome e não consegui ter uma conversa decente com ninguém. Para cúmulo, tive dois pesadelos contigo (qual deles o pior)! (?) O quadro é negro e, por isso mesmo, nem me atrevo a pegar nos pincéis para começar outra tela. Acho que sairia apenas um gigante borrão preto."
A Lua de Joana, Maria Teresa Maia Gonzalez, Editorial Verbo.
Muitos são os pais que procuram ajuda, na tentativa de saber se o comportamento dos filhos se poderá ou não enquadrar na normalidade. Esta preocupação surge de forma acentuada no período da adolescência, período frequentemente marcado por agitação e tensão. Saber estabelecer as linhas divisórias ou os parâmetros entre o que é um comportamento normal ou patológico não é de facto uma tarefa fácil. Daí a compreensível apreensão e dúvida de pais e educadores.
Estudos realizados em vários países mostram claramente que menos de um quinto dos adolescentes apresentam comportamentos indicadores de distúrbios psicológicos significativos. Apesar do número de casos patológicos felizmente ser muito inferior ao número de casos cujos comportamentos se podem considerar normais para aquela faixa etária, é fundamental estar atento a manifestações patológicas ao nível do funcionamento psicológico. Uma questão que de imediato se poderá colocar é se de facto existirão distúrbios psicológicos específicos da adolescência que, de alguma forma, sejam diferentes daqueles que são também experienciados por crianças e adultos. Rutter, investigador nesta área, ajuda a responder a esta questão, indicando quatro problemas principais que aumentam significativamente na adolescência: a depressão, o alcoolismo/a dependência de drogas, a anorexia nervosa ou dietas rigorosas que impliquem perdas acentuadas de peso e a tentativa de suicídio. O suicídio real e a psicose, embora apresentem um crescimento significativo na adolescência, continuam a ser cada vez mais frequentes ao longo da vida adulta. É de referir que as perturbações do adolescente são mais comuns nos anos intermédios e no final da adolescência do que no princípio deste período de desenvolvimento.
A incidência dos distúrbios psicológicos referidos varia também em função do sexo, sendo as raparigas mais propensas à depressão, às tentativas de suicídio e à anorexia, e os rapazes ao abuso de álcool e drogas.
Sempre que o adolescente apresente os distúrbios referidos é fundamental que seja devidamente encaminhado e apoiado por profissionais. A aceitação do encaminhamento por parte deste será mais fácil se lhe for transmitida a mensagem de que todos temos problemas para os quais nem sempre conseguimos encontrar as soluções sozinhos e que pedir ajuda não é indicador de fraqueza, mas um sinal de que para se ser feliz é fundamental compreender o próprio processo de crescimento.
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