segunda-feira, 16 de agosto de 2010

FORMAÇÃO CÍVICA

Formação Cívica
A Formação Cívica é um espaço privilegiado para o desenvolvimento da educação para a cidadania, constituindo um espaço de diálogo e reflexão sobre experiências vividas e preocupações sentidas pelos alunos e sobre questões relativas à sua participação, individual e colectiva na vida da turma, da escola e da comunidade. A actividade a desenvolver neste domínio contará com o apoio de um tempo semanal para sessões de informação e de debate que, entre outros, pode assumir o formato de assembleia de turma.

Finalidades
Desenvolver competências necessárias ao exercício da cidadania.
Desenvolver nos alunos atitudes de auto-estima, respeito mútuo e regras de convivência que conduzam à formação de cidadãos tolerantes, autónomos, participativos e civicamente responsáveis.
Promover valores de tolerância, solidariedade e respeito pelos outros.
Estimular a participação activa dos alunos na escola e na sociedade.
Proporcionar aos alunos momentos de reflexão sobre a vida da escola e os princípios democráticos que regem o seu funcionamento.

Pressupostos
Todos os momentos são propícios à reflexão sobre a educação para a cidadania, nas aulas e fora delas, na participação da organização da vida escolar, nos estudos, nas actividades desportivas, nos tempos livres, no convívio e nas regras que o orientam.
A cidadania exerce-se na participação, cooperação, tomada de decisão e expressão de opinião com liberdade e responsabilidade.
Nesta área devem ser promovidas situações de aprendizagem que integrem dimensões da vida individual e colectiva, bem como conhecimentos fundamentais para compreender a sociedade e as suas instituições.
Aquisição de competências, individualmente e em grupo, para a construção de um projecto de vida saudável nas vertentes física, psíquica e social.

Princípios orientadores
Esta componente curricular não é de exclusiva responsabilidade de um professor ou de uma disciplina, mas sim de todas as disciplinas e áreas do currículo, visto abarcar todos os saberes e abranger todas as situações vividas na escola;
De modo a favorecer o desenvolvimento desta área, existe um tempo semanal no horário dos alunos e do director de turma, destinado à informação, sistematização e aprofundamento dos assuntos;
Na sua vertente de apoio de um tempo semanal, deve:
ser planificada pelo director de turma após ouvido e o conselho de directores de turma e o conselho de turma, tendo em conta o projecto educativo, o projecto curricular de escola e de turma;
ser um espaço privilegiado para a discussão e construção de regras/normas de conduta adequadas;
constituir também um espaço de diálogo e reflexão sobre assuntos específicos apresentados pelos alunos.

Intervenientes
Esta área curricular é discutida, planificada e gerida em conselho de turma, sendo a sua operacionalização da responsabilidade do director de turma.

Avaliação
A avaliação desta área curricular não disciplinar caracteriza-se por ser descritiva, baseada na auto-reflexão, no conhecimento que o aluno tem de si próprio e da sua evolução. Este tipo de reflexão deve ser orientado pelo director de turma, podendo o mesmo recolher contributos dos professores das áreas disciplinares/disciplinas, no sentido de validar a evolução dos alunos. Compete ao conselho de turma proceder à avaliação sumativa mediante proposta do professor que lecciona a área de Formação Cívica.

MÓDULO CIDADANIA E SEGURANÇA

Módulo Cidadania e Segurança
Despacho n.º 19308/2008
Circular n.º 18/DSIE/2007, de 11 de Dezembro de 2007
Circular para as escolas.
Módulo "Cidadania e Segurança"
06-12-2007
Educação para a Cidadania
O módulo de Cidadania e Segurança, de acordo com o nº 14 do Despacho nº 19308/2008, de 21 de Julho, deve ser trabalhado na área da formação cívica, em cinco blocos de noventa minutos, ao longo do 5.º ano de escolaridade, de acordo com uma sequência e um calendário a definir pela escola e tendo em conta as orientações da Direcção – Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular.
A aplicação do módulo, a sequência das áreas de trabalho e a sua inserção curricular são definidas pelo agrupamento e pela escola de acordo com o respectivo projecto educativo e com a gestão do tempo afecto às actividades curriculares não disciplinares; a planificação do módulo realiza-se nos respectivos conselhos de turma.
Constituem objectivos do módulo:
promover a compreensão da importância do valor da relação com os outros e da construção de regras de convivência na escola e na sociedade;
aumentar a capacidade para a resolução de situações de conflito de forma não violenta;
promover competências para agir adequadamente face à agressão;
desenvolver a capacidade de identificação de comportamentos de risco e incentivar atitudes de prevenção;
desenvolver uma cultura de segurança e capacitar para a auto-protecção.
Tendo como referência os direitos fundamentais e os recíprocos deveres que lhes são inerentes, o módulo encontra-se organizado em torno de três temas: ”Viver com os outros”, “As situações de conflito e a violência e “Comportamentos específicos de segurança”.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

BARREIRAS ARQUITECTÓNICAS

BULIMIA

Bulimia Nervosa
Adriana Campos 2010-06-23
Partindo ainda deste testemunho, gostaria de sublinhar o facto de, muito frequentemente, este problema passar despercebido, dado que as vítimas de bulimia, contrariamente às anoréxicas, mantêm um peso tipicamente normal.
"O que está mais presente na minha memória relativamente àquele período da minha vida é o medo horrível de engordar e o vazio e culpabilidade que sentia após a indução do vómito. Apesar de prometer aos meus pais e à minha psicóloga que não voltaria a deliberadamente vomitar, o medo horrível de ficar gorda e disforme perseguia-me. As pessoas que me rodeavam diziam-me que eu era elegante e bonita, mas eu tinha espelho e conhecia bem as dimensões exageradas do meu traseiro.Um outro sentimento que me deixava muito frustrada era a minha incapacidade de controlo: não conseguia deixar de ter momentos em que ingeria quantidades astronómicas de comida e também não conseguia deixar de recorrer ao vómito como forma de me libertar dos excessos cometidos. Todas estas manobras eram feitas com grande secretismo, pois sabia que algo de errado se passava comigo. Quando todo este meu drama foi descoberto, passei a seu alvo de acompanhamento em pedopsiquiatria e psicologia. Apesar desta intervenção, os meus comportamentos irracionais em relação à comida continuaram e, por isso, tive de ser internada. Recordo esses dias como os piores da minha vida... as sessões de grupo ficarão para sempre gravados na minha memória. Como era possível que jovens tão magras pudessem afirmar que eram gordas? Definitivamente eu senti que teria de mudar, pois cair num beco semelhante ao delas eu não queria. Acho que este internamento me obrigou a pensar... acho que foi o clic para a mudança. Depois de três semanas internada fui progressivamente deixando de vomitar, apesar do desagrado com a minha imagem corporal continuar..."
Jovem anónimaEste foi o relato feito por uma jovem adulta relativamente ao período em que a bulimia invadiu a sua vida, e que acompanhei muito de perto. Era uma adolescente bonita e meiga, com uma auto-estima muito baixa e com um medo horrível de decepcionar as pessoas mais próximas, sobretudo as figuras parentais. Tinha uma aparência física perfeitamente normal e um peso adequado para a sua idade e estatura. A bulimia nervosa é uma disfunção alimentar que se enquadra nas perturbações psiquiátricas graves e que, por isso, é descrita na DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais). Sempre que, num período curto de tempo, são ingeridas grandes quantidades de alimentos, seguindo-se comportamentos inapropriados para impedir o aumento de peso, tais como vomitar, usar laxantes, diuréticos ou outros medicamentos, jejum ou exercício físico exagerado, estamos face a uma situação de bulimia nervosa. Para que o diagnóstico deste tipo de perturbação possa ser feito, é necessário que os episódios de ingestão compulsiva de alimentos e os comportamentos compensatórios ocorram ambos, em média, pelo menos duas vezes por semana, em três meses consecutivos. Habitualmente, esta perturbação começa no fim da adolescência ou início da idade adulta.Outros pormenores relativamente à bulimia estão magnificamente ilustrados nas palavras desta jovem, que, agora, sendo já quase adulta, consegue ter algum sentido crítico relativamente à forma como viveu o seu problema de saúde. Partindo ainda deste testemunho, gostaria de sublinhar o facto de, muito frequentemente, este problema passar despercebido, dado que as vítimas de bulimia, contrariamente às anoréxicas, mantêm um peso tipicamente normal. Como sinais de alerta da doença é importante referir a perda permanente e significativa de esmalte dos dentes, como resultado do vómito recorrente, engorgitamento das glândulas salivares e, por vezes, irregularidades menstruais ou amenorreia entre as raparigas. A preocupação excessiva por parte da jovem relativamente à ingestão de alimentos com muitas calorias e o consumo preferencial de alimentos com baixo teor calórico são também indicadores para os quais se deverá ter uma atenção particular.Para terminar, resta acrescentar que este tipo de perturbação, dada a sua complexidade e gravidade, exige a intervenção de equipas multidisciplinares.

VIGOREXIA

Obsessão por músculos: vigorexia
Adriana Campos 2009-09-16
Muitos jovens (e também adultos), vivem como que obcecados por treinos de musculação a que, aos poucos, vão associando produtos para o desenvolvimento dos músculos.
Harrison G. Pope, Jr, da Faculdade de Medicina de Harvard - Massachusetts realizou estudos em três países sobre a imagem que os homens teriam deles próprios, sobre a imagem que achariam ideal para si e sobre a imagem que acreditam que as mulheres preferem. Os resultados mostram que a escolha do corpo ideal foi em média de, aproximadamente, 13 quilos a mais de massa muscular do que eles tinham. Também estimaram que as mulheres preferiam um corpo masculino com aproximadamente 14 quilos de massa muscular a mais do que eles efectivamente possuíam. Num estudo-piloto paralelo, entretanto, o autor constatou que as mulheres preferiam, de facto, um corpo masculino comum e sem os músculos adicionais que os homens pensavam ser necessários. Como conclusão, Pope atestou a grande discrepância entre o estado real e o ideal muscular dos homens. Muitos jovens (e também adultos), vivem como que obcecados por treinos de musculação a que, aos poucos, vão associando produtos para o desenvolvimento dos músculos. Tal prática acarreta muitos perigos para a saúde, em vez de, como poderão afirmar os praticantes dessa modalidade, contribuir para um corpo mais são. O psiquiatra americano Harrisom G. Pope foi o primeiro a usar o termo Vigorexia ou Síndrome de Adónis. A vigorexia é uma perturbação emocional caracterizada pela obsessão em ser musculado, sendo mais comum no sexo masculino. O seu início é, geralmente, coincidente com o final da adolescência, período em que a insatisfação com o corpo é típica e os ditames da cultura têm um grande peso.Apesar de os portadores deste transtorno serem bastante musculados, percepcionam o seu corpo de uma forma distorcida, considerando-se magros. A preocupação com o aumento da massa muscular torna-se o centro da sua existência, sendo por isso quase compelidos a frequentar o ginásio durante um elevado número de horas e a ingerir substâncias que potenciam o aumento da massa muscular. Não é por acaso que anorexia rima com vigorexia; efectivamente as duas doenças tem aspectos comuns. Em ambas está presente a preocupação exagerada com o próprio corpo e a distorção da imagem que os pacientes têm de si mesmos: os anoréxicos nunca se acham suficientemente magros, ao passo que os vigoréxicos nunca se consideram suficientemente musculosos. Para além destas, existem outras características comuns, tais como: baixa auto-estima, personalidade introvertida, alterações ao nível do comportamento alimentar e tendência para a automedicação.Associadas a esta perturbação, também designada como overtraining, manifestam-se várias consequências, nomeadamente reacções típicas das situações de stress, tais como: insónia, falta de apetite, irritabilidade, cansaço permanente, desinteresse sexual e dificuldade de concentração. A vigorexia causa também problemas físicos e estéticos, tais como desproporção displástica, problemas ósseos e articulares, falta de agilidade, entre outros. Os problemas de ordem física são ainda maiores sempre que a obsessão por "melhores resultados" leva ao consumo de esteróides e anabolizantes. O consumo deste tipo de substâncias conduz ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais, diminuição do tamanho dos testículos e maior propensão para o cancro da próstata. Segundo estudos realizados, embora a vigorexia seja potenciada pelos padrões culturais vigentes, constatam-se desequilíbrios ao nível dos neurotransmissores, mais concretamente da serotonina. Por este motivo, no tratamento desta patologia pode recorrer-se a fármacos. A este tipo de tratamento é fundamental associar a psicoterapia para a que estes indivíduos recuperem a sua auto-estima e superem o medo do fracasso social.

DISTÚRBIOS PSICOLÓGICOS NA ADOLESCÊNCIA

Distúrbios psicológicos na adolescência
Adriana Campos 2004-07-21
Estudos realizados em vários países mostram claramente que menos de um quinto dos adolescentes apresentam comportamentos indicadores de distúrbios psicológicos significativos
"Lisboa, 18 de Fevereiro de 1993
Querida Marta,
As últimas semanas foram uma espécie de deserto. Não li nada, não escrevi, não tive fome e não consegui ter uma conversa decente com ninguém. Para cúmulo, tive dois pesadelos contigo (qual deles o pior)! (?) O quadro é negro e, por isso mesmo, nem me atrevo a pegar nos pincéis para começar outra tela. Acho que sairia apenas um gigante borrão preto."
A Lua de Joana, Maria Teresa Maia Gonzalez, Editorial Verbo.
Muitos são os pais que procuram ajuda, na tentativa de saber se o comportamento dos filhos se poderá ou não enquadrar na normalidade. Esta preocupação surge de forma acentuada no período da adolescência, período frequentemente marcado por agitação e tensão. Saber estabelecer as linhas divisórias ou os parâmetros entre o que é um comportamento normal ou patológico não é de facto uma tarefa fácil. Daí a compreensível apreensão e dúvida de pais e educadores.
Estudos realizados em vários países mostram claramente que menos de um quinto dos adolescentes apresentam comportamentos indicadores de distúrbios psicológicos significativos. Apesar do número de casos patológicos felizmente ser muito inferior ao número de casos cujos comportamentos se podem considerar normais para aquela faixa etária, é fundamental estar atento a manifestações patológicas ao nível do funcionamento psicológico. Uma questão que de imediato se poderá colocar é se de facto existirão distúrbios psicológicos específicos da adolescência que, de alguma forma, sejam diferentes daqueles que são também experienciados por crianças e adultos. Rutter, investigador nesta área, ajuda a responder a esta questão, indicando quatro problemas principais que aumentam significativamente na adolescência: a depressão, o alcoolismo/a dependência de drogas, a anorexia nervosa ou dietas rigorosas que impliquem perdas acentuadas de peso e a tentativa de suicídio. O suicídio real e a psicose, embora apresentem um crescimento significativo na adolescência, continuam a ser cada vez mais frequentes ao longo da vida adulta. É de referir que as perturbações do adolescente são mais comuns nos anos intermédios e no final da adolescência do que no princípio deste período de desenvolvimento.
A incidência dos distúrbios psicológicos referidos varia também em função do sexo, sendo as raparigas mais propensas à depressão, às tentativas de suicídio e à anorexia, e os rapazes ao abuso de álcool e drogas.
Sempre que o adolescente apresente os distúrbios referidos é fundamental que seja devidamente encaminhado e apoiado por profissionais. A aceitação do encaminhamento por parte deste será mais fácil se lhe for transmitida a mensagem de que todos temos problemas para os quais nem sempre conseguimos encontrar as soluções sozinhos e que pedir ajuda não é indicador de fraqueza, mas um sinal de que para se ser feliz é fundamental compreender o próprio processo de crescimento.

ANOREXIA


Anorexia nervosa
Adriana Campos 2000-07-31
A anorexia é uma doença que afecta cada vez mais adolescentes. Muitos são os pais que vivem na angústia de não saber como dar resposta a este problema. Antes que o mal lhe bata à porta, aceite algumas sugestões para evitar o aparecimento desta doença no seu filho.
"Não compreendo como é que isto pôde acontecer à minha filha! Ela sempre viveu só para os estudos. Não tem namoros, não sai à noite, enfim... nunca nos deu preocupações. Na verdade, até considero que não é uma rapariga de hoje. Quantas vezes eu e o meu marido insistíamos para que saísse de casa e ela nunca o fazia. Ao fim-de-semana é que ela aceitava sair, porque o fazia na nossa companhia. Frequentemente, estes passeios de domingo eram encurtados devido ao seu desejo insistente de ir estudar. Quando tinha teste à segunda-feira, era certo e sabido que ninguém a arrancava de casa.. .Não, não posso compreender como isto pôde acontecer e logo à minha Joana!..."Este é o relato feito pela mãe de uma jovem de 16 anos, atingida por uma anorexia nervosa.A anorexia é uma doença, cujo principal sintoma consiste numa perda acentuada de peso, auto-imposta, em resultado de uma restrição alimentar activa. Mesmo quando já houve um emagrecimento acentuado ou mesmo quando a pessoa em causa já apresenta um aspecto esquelético, continua a existir um medo intenso de aumentar de peso ou de ficar obeso.
A(o) jovem anoréxica(o) apresenta uma vivência distorcida da sua imagem corporal, continuando a ver no seu corpo partes "gordas", mesmo quando só tem "pele e osso".Esta doença é mais frequente no sexo feminino. Nas raparigas, a anorexia acaba por levar à falta da menstruação, em consequência da perda de peso.
Porquê?Existem muitas e variadas explicações para o aparecimento desta doença, tais como: as mensagens contraditórias de uma sociedade que publicita constantemente produtos altamente calóricos e que paralelamente valoriza um ideal de beleza, marcado pela magreza por vezes exagerada; a confusão das mães relativamente ao significado do choro dos bebés, que o interpretam sistematicamente como indicador de fome; a possibilidade de haver alterações genéticas, confirmada pela elevada prevalência da doença em familiares em primeiro grau. Estas são algumas explicações... independentemente da maior ou menor veracidade de cada uma delas!Parece-me indispensável reflectir sobre um outro aspecto: as características de personalidade comum a muitos dos jovens que sofrem desta doença! Segundo alguns estudos, os jovens adolescentes afectados por anorexia possuem características de personalidade comuns: têm dificuldades de relacionamento interpessoal, são inseguros, têm uma baixa auto-estima, são pouco autónomos, são dotados de um carácter marcadamente obsessivo, possuem padrões de pensamento pouco flexível. Pelos pais, tal como o texto inicialmente apresentado ilustra, são vistos como jovens muito sossegados, pouco amigos de sair e que nunca deram problemas. Numa só frase: 'não são como os jovens de hoje'.Abordar a questão por este prisma poderá ser útil, na medida em que estas características parecem ter uma relação directa com o desencadeamento deste processo. A actuação dos pais no sentido de as contrariar será, com certeza, uma boa forma de prevenção, não só deste desequilíbrio, mas também de outros, tais como o consumo exagerado de álcool, drogas, etc.O que podem fazer os paisEis algumas sugestões que os pais devem ter em conta para prevenir o aparecimento da doença:- Ajude o seu filho a desenvolver uma auto estima positiva. A auto-estima é a percepção que cada um tem de si próprio. Esta percepção constrói-se ao longo da vida, em resultado das várias interacções que o indivíduo vai estabelecendo em diferentes contextos. A família tem um papel fundamental na construção da auto-imagem do jovem. Aproveite todas as oportunidades para elogiar o seu filho, não apenas na área académica, mas também em outros domínios. Os jovens precisam de sentir que os pais os amam, independentemente dos resultados escolares, e que estes não são a única área importante da vida de um adolescente.- Ao longo do processo de desenvolvimento, estimule o seu filho a ser cada vez mais autónomo. Nunca faça por ele aquilo que ele pode fazer sozinho. Ao chegar à adolescência, é fundamental flexibilizar regras anteriormente estipuladas. Não queira que o seu filho permaneça eternamente 'debaixo da sua asa'. Não o ensinou a voar? Então porque o 'quer prender ao ninho'? As quedas são indispensáveis à aprendizagem.- Respeite a sua necessidade crescente de espaço. Ele tem direito/necessidade de ter o seu cantinho, a sua correspondência e o seu diário. Violar esta necessidade é altamente nefasto, ainda que o faça com muito boas intenções.- Cultive relações positivas com o seu cônjuge. Uma relação conflituosa do casal faz com que, muitas vezes, os filhos se tornem a única razão para a existência deste. A missão dos filhos não é servir de elo de ligação de casamentos desfeitos...- Incentive o seu filho a expressar os sentimentos dele e exprima também os seus. A não expressão de sentimentos pode levar o adolescente a pensar que o que se passa com ele (tristeza, cólera, fúria) é algo anormal.- Apesar de Portugal ser um dos países com mais baixas taxas de anorexia, certos dados levam-nos a pensar que é cada vez mais urgente prevenir. A reforçar esta ideia, e para terminar, gostaria de apresentar os resultados de uma investigação feita pelo grupo de estudo de Doenças de Comportamento Alimentar do Hospital de Santa Maria. Das 2 400 raparigas (entre os 10 e os 21 anos) que responderam a um inquérito, só 15% tinham excesso de peso. As restantes raparigas da amostra tinham um peso normal ou abaixo do que seria esperado. Apesar disto, 52% "tinham horror em aumentar de peso", 49% diziam que tinham 'uma parte gorda' e 38% queriam ser mais magras, 20% sentiam-se mal com o corpo, porque se sentiam gordas, e cerca de 13% estavam a fazer dieta na altura e a perder peso.

FORMAÇÃO CÍVICA?


Formação nas escolas: Porquê? Para quê? Para quem?
Armanda Zenhas 2001-08-29
O desafio das novas áreas (...) pode ser mais facilmente vencido pelos professores com um trabalho conjunto, realizado em oficinas de formação. Estas correspondem a uma das modalidades de formação contínua para obtenção de créditos para progressão na carreira.
Um novo ano se avizinha, com muitas promessas de mudança. Aulas de 90 minutos. Novas áreas curriculares não disciplinares: Estudo Acompanhado, Formação Cívica, Área de Projecto. Educação Sexual a atravessar todas as áreas disciplinares. Boas são as intenções. Muitos são os desafios. Muitos são também os receios e as dúvidas.A acompanhar a mudança, e para garantir que ela seja bem sucedida, faz-se sentir a necessidade de formação de todos os intervenientes no processo educativo. Cada escola tem as suas características próprias. Por isso se torna importante a elaboração de planos de formação próprios.O desafio das novas áreas referidas pode ser mais facilmente vencido pelos professores com um trabalho conjunto, realizado em oficinas de formação. Estas correspondem a uma das modalidades de formação contínua para obtenção de créditos para progressão na carreira. Quais as suas vantagens relativamente às tradicionais acções de formação? Este formato pressupõe uma participação mais activa dos professores, sendo metade do tempo destinado a sessões presenciais e a outra metade a trabalho autónomo. Permite que os professores se organizem conjuntamente, produzam os materiais necessários ao desempenho da sua actividade na área em que estão a realizar formação, debatam as estratégias a utilizar, reflictam sobre os problemas surgidos durante a sua aplicação e reformulem estratégias. Uma oficina poderá funcionar como um espaço conjunto de preparação e de reflexão sobre o trabalho a desenvolver, por exemplo, numa das novas áreas curriculares não disciplinares.Um papel importante nas escolas, nem sempre visível ou reconhecido, é o dos auxiliares de acção educativa. Também eles precisam de assumir efectivamente esse seu estatuto de parceiros na acção educativa e que esse estatuto lhes seja reconhecido. Também a sua formação deve ser uma prioridade para as escolas, havendo já muitos centros de formação que nela investem.Pretende-se que os encarregados de educação sejam parceiros das escolas e colaborem activamente com ela. Essa colaboração pode ser reforçada com a realização de acções de formação e debates para os encarregados de educação, sobre temas/problemas detectados pelos órgãos pedagógicos e de gestão das escolas e pelas associações de pais. Esta é uma prática que muitas escolas têm procurado fomentar. Pena é que nem sempre os encarregados de educação respondam à chamada e que a participação em tais acções se fique, frequentemente, bastante aquém dos níveis de participação desejados e desejáveis.Em tempo de mudança, esta passa muito pela interacção entre os diversos parceiros na educação e pelo trabalho de colaboração de todos os professores em cada conselho de turma. Mais do que um imperativo legal, a formação é uma necessidade premente. É preciso investir nela.

REGRAS DO BOM ESTUDANTE

Rotinas de um estudante
Armanda Zenhas 2009-12-02
A definição de regras nem sempre é muito bem aceite pelos jovens. No entanto elas são necessárias, embora devam ser alvo de negociação e ter por base o bom senso. A sua aplicação deverá conduzir ao estabelecimento de rotinas.
Com um novo ano escolar a iniciar-se, o tempo de férias ficou para trás e o dia-a-dia sofreu alterações que nem sempre são do agrado dos mais pequenos. A negociação das regras e das rotinas entre pais e filhos impõe-se.A boa gestão do quotidiano pode rentabilizar o esforço do estudante e contribuir para que ele, mais facilmente, tenha sucesso académico. Aqui ficam algumas sugestões:1. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer... e ajuda a aprender.Embora os pais tenham conhecimento da necessidade de se dormir para se poder estar atento nas aulas e estudar, os jovens parecem ter uma energia inesgotável à hora de ir para a cama. Além disso, a televisão ou o computador no quarto ajudam-nos a contornar o aborrecimento de ir para a cama cedo. Afinal, fechada a porta do quarto, há ainda um último aliado no combate para prolongar as horas de vigília. Impõe-se a negociação e o cumprimento do horário de deitar e de levantar.2. Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.Podemos aplicar este provérbio a diversos aspectos da vida de um estudante. Comecemos pelo estudo. Diariamente, é necessário fazer revisões da matéria dada nesse mesmo dia. Desta forma, será necessário menos esforço e menos tempo de trabalho do que se se estudar apenas alguns dias depois. Pior será se se tencionar estudar apenas na véspera dos testes. Os pais podem ajudar a criar a rotina das revisões diárias e da realização dos TPC, procurando ver, com os filhos, qual o horário mais adequado a essas tarefas, em função do horário escolar e da organização do quotidiano de cada criança e de cada família.Fazer a pasta é outra tarefa que não deve ser deixada para o dia seguinte. O estabelecimento da rotina de preparar os materiais de véspera é útil. Poupa a correria e as discussões no início do dia e evita o esquecimento de livros ou de outros objectos necessários.3. Grão a grão enche a galinha o papo. Refeição a refeição ganha o estudante a energia necessária.Todas as refeições são imprescindíveis para o bom funcionamento do organismo e para se conseguir estar atento nas aulas e ter rendimento no estudo. Há regras fundamentais, que muitas vezes os jovens não gostam de cumprir, mas das quais os pais não devem abdicar:- tomar sempre o pequeno-almoço;- merendar a meio da manhã e a meio da tarde;- almoçar "de garfo e faca" e não apenas sandes ou outro tipo de "fast-food".A definição de regras nem sempre é muito bem aceite pelos jovens. No entanto elas são necessárias, embora devam ser alvo de negociação e ter por base o bom senso. A sua aplicação deverá conduzir ao estabelecimento de rotinas. Estas pouparão esforço a pais e a filhos, e deixarão o caminho livre a interacções mais positivas entre uns e outros. A hora de levantar, por exemplo, poderá ser menos conturbada, se as rotinas de fazer a pasta de véspera e de deitar cedo estiverem instaladas.

FORMAÇÃO CÍVICA NAS ESCOLAS

Formação cívica nas escolas
Armanda Zenhas 2010-05-19
A intervenção de carácter punitivo ou com a forma de "sermão" não será a mais adequada a produzir mudanças e a modificar comportamentos. É importante que seja feito um trabalho de desenvolvimento de competências sociais...
O 6.º I entra na sala a correr. Os alunos dão encontrões uns aos outros, deitam livros ao chão, agridem-se, gritam. Até a turma acalmar, passam uns bons dez minutos de aula. No 8.º B, um grupo de alunos prega constantemente partidas de mau gosto a colegas escolhidos a dedo, que se sentem humilhados ou marginalizados, o tão falado bullying. Turmas como estas são a realidade quotidiana das escolas. Na resolução de todos estes problemas, ao director de turma (DT) cabe uma grande responsabilidade, acarretando um enorme consumo de tempo e de energia. Muito do seu tempo é também gasto em burocracias, como marcação de faltas aos alunos, recepção e análise das justificações, entrega de mensagens diversas para estes levarem para casa. Para estes fins, é indispensável haver um tempo previsto de encontro entre o DT e a turma/os alunos.Num momento em que se questiona a carga horária do 2.º e do 3.º ciclos do Ensino Básico e a existência das áreas curriculares não disciplinares, entre as quais a de Formação Cívica, faz todo o sentido reflectir sobre a pertinência da sua continuidade. Aquando da sua criação, a Formação Cívica era definida como o "espaço privilegiado para o desenvolvimento da educação para a cidadania, visando o desenvolvimento da consciência cívica dos alunos como elemento fundamental no processo de formação de cidadãos responsáveis, críticos, activos e intervenientes, com recurso, nomeadamente, ao intercâmbio de experiências vividas pelos alunos e à sua participação, individual e colectiva, na vida da turma, da escola e da comunidade." (Dec-Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro, art.º 5.º, ponto 3, alínea c). Por conseguinte, situações como as descritas acima encontram, nesta área, um espaço de eleição para serem trabalhadas e prevenidas novas ocorrências. É também o espaço de encontro entre o DT, que a lecciona, e os alunos, proporcionando o tempo (mesmo assim, frequentemente, escasso) para a resolução de tarefas burocráticas, como a justificação de faltas e o envio de mensagens para casa ou recepção de comprovativo de entrega das mesmas. Antes da existência da área não curricular de Formação Cívica, tal como ainda sucede no Ensino Secundário em que ela não existe, o DT precisava de "roubar" à sua disciplina o já insuficiente tempo para leccionar o programa, a fim de resolver com os alunos todos os problemas e tarefas relativos à direcção de turma, visto não haver qualquer espaço temporal comum para se encontrarem.Em cada turma, o conselho de turma pode ter um papel interventivo na definição de temas a tratar nas aulas de Formação Cívica, a partir da identificação dos principais problemas, da definição de prioridades e do estabelecimento de estratégias de intervenção. É essencial ainda que os professores, nas suas aulas, dêem continuidade ao trabalho feito na Formação Cívica.A intervenção de carácter punitivo ou com a forma de "sermão" não será a mais adequada a produzir mudanças e a modificar comportamentos. É importante que seja feito um trabalho de desenvolvimento de competências sociais, como, por exemplo: competências de comunicação (verbal e não verbal), de resolução de conflitos, de trabalho de grupo. É também fundamental que se procure desenvolver, nos alunos, a auto-estima, a autoconfiança, a assertividade e o sentido de responsabilidade.As actividades a utilizar devem envolver muito os alunos. Poderão ser jogos, debates, dramatizações, trabalhos de grupo. Eles devem sentir esta área, não como uma disciplina, mas como um espaço onde discutem e trabalham acerca de problemas e situações do seu quotidiano, onde aprendem a conhecer-se melhor e a relacionar-se melhor com os outros.

INDISCIPLINA: ESTRATÉGIA DE RESOLUÇÃO

Uma história real de indisciplina (Parte 2: Uma estratégia de resolução)
Armanda Zenhas 2010-06-16
Os resultados são surpreendentes. Todos querem participar. De início, apenas escrevem para os amigos, pelo que os alunos mais populares recebem muitas mensagens e os menos populares ficam sem nenhumas. Por isso, o trabalho do professor não acaba aqui.
No último artigo falei de uma turma com problemas de disciplina. Referi sumariamente diversas regras que devem ser observadas nessas situações e sugeri várias estratégias.Prometi para depois a descrição de uma estratégia que foi utilizada com bastante sucesso na modificação dos comportamentos disruptivos e na entreajuda e coesão da turma para atingir esse objectivo. Alerto, desde já, para o facto de o sucesso desta estratégia ter de ser integrado no trabalho global feito com a turma e com cada um dos alunos mais problemáticos. Mas antes de descrever a estratégia a que me tenho referido, deixem-me recuar à última quinzena do mês de Julho de 1997, em que, terminadas as aulas e as tarefas burocráticas, voei para Canterbury, em Inglaterra, onde frequentei um curso intensivo para professores de Inglês, com o apoio do programa LINGUA. Aquele curso de "Whole Brain Learning"... O que aprendi sobre a forma de mobilizar todo o cérebro para rentabilizar a aprendizagem e de como ensinar para conseguir esses objectivos! As vantagens que retirei da imersão no mundo da língua inglesa, a tempo inteiro, para "refrescar" as minhas competências nesse domínio! Se quiser repetir a experiência, terei que o fazer em férias, momento em que terminam as incontáveis tarefas burocráticas que se sucedem ao fim das aulas. Como sobreviver sem metade das férias? Mudam-se os tempos...Regresso agora à estratégia específica a que me tenho referido, complementar a várias das que podem ser utilizadas para fomentar a disciplina numa turma, e que visa melhorar as relações entre os alunos (entre todos os alunos), para que nenhum seja excluído; visa levar cada aluno a olhar para os aspectos positivos de cada um dos outros e a ter os seus reconhecidos por eles; e visa, ainda, incentivar a melhoria de atitudes, comportamentos e valores de todos eles. Aprendi-a em Canterbury, no referido curso. Consiste na troca, entre os alunos, de mensagens de apreço, elogio ou agradecimento, por características positivas deles ou por actos por eles realizados. Explica-se aos alunos que, apesar de o respeito pela privacidade ser importante, o professor tem que ler essas mensagens antes de as entregar aos destinatários, para evitar "batota", ou seja, mensagens com conteúdos depreciativos.Não sendo a escrita das mensagens de carácter obrigatório, o professor entrega, aos alunos que pretendam, papéis que podem ter cores ou formas mais apelativas (por exemplo, recortados com uma tesoura especial). Cada aluno escreve as mensagens que quiser, referindo o destinatário, a data e assinando, após o que as devolve ao professor. Este verifica o conteúdo. Se não for aceitável, explica os motivos a quem o redigiu. Nas restantes situações, faz chegar as mensagens aos seus destinatários. Os resultados são surpreendentes. Todos querem participar. De início, apenas escrevem para os amigos, pelo que os alunos mais populares recebem muitas mensagens e os menos populares ficam sem nenhumas. Por isso, o trabalho do professor não acaba aqui. Continua a incentivar a participação dos alunos na actividade, mas desta vez apelando a que escrevam a quem ainda não escreveram, para que todos recebam mensagens, já que todos têm aspectos positivos ou fazem acções que merecem elogio. Por isso, deverão evitar escrever aos melhores amigos, procurando, antes, elogiar, incentivar e valorizar outros colegas. A certo ponto, a turma apercebe-se da necessidade de melhorar o comportamento e surgem mensagens de incentivo à mudança para os alunos mais problemáticos.Aqui ficam exemplos de algumas mensagens reais:- "Obrigado por me teres ajudado na aula de Português. És um amigo fixe."- "Obrigada por me teres ouvido sobre aquilo e não teres contado a ninguém. És uma boa amiga. Posso contar contigo."- "Parabéns por não teres mandado bocas na aula de História de hoje. Continua assim. Vais conseguir."- "Obrigado por me teres deixado entrar no jogo hoje no recreio."E assim cada aluno aprende a ver os aspectos positivos de cada um dos outros e a respeitar todos; cada aluno verifica que tem qualidades que são apreciadas pelos colegas, todos vão ganhando vontade de melhorar ou de ajudar os outros a melhorarem. Reforço a ideia de que esta estratégia não "vive" sozinha, mas enquadrada num trabalho global. Termino dizendo que também pode ser utilizada em turmas com bom comportamento, com os mesmos objectivos de fomentar em cada aluno a valorização de si próprio e de cada um dos outros, a aceitação da diferença e a melhoria das relações interpessoais.Que saudades de Canterbury e do tempo em que a burocracia ainda não esmagava os professores e eles podiam aproveitar o tempo mais produtivamente!

INDISCIPLINA?

Uma história real de indisciplina (Parte 1: A descrição)
Armanda Zenhas 2010-06-02
Imaginem uma turma de 5.º ou 6.º ano, com 25 alunos turbulentos e conversadores. Entre eles, dois com hiperactividade e dois com défices cognitivos (excluídos de apoios específicos à luz do Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de Janeiro) e ainda vários alunos com problemas emocionais mais ou menos graves, devidos a contextos familiares problemáticos. Há também um aluno, vindo de outra escola, com um sério historial de agressividade.
Nesta turma (valha-nos isso!) todos os alunos são amigos e integram bem os que têm os problemas mencionados. Há, contudo, o reverso da medalha: as aulas são óptimas oportunidades de convívio e de conversa, que os "chatos" dos professores insistem em interromper com a matéria e as actividades a ela ligadas. Dois alunos disputam entre si o papel de "palhaço" principal e fazem comentários em voz alta para provocarem o riso da turma, levantam-se sem autorização, muitas vezes terminam fora da sala de aula. À sua volta, gravita um pequeno grupo que estimula o show e incentiva as palhaçadas, participando nelas, por vezes. Os restantes não incentivam, mas riem-se. E é difícil agir sobre uma turma que, colectivamente, além de conversar para o lado (comportamento que não acha grave, mas não lhe permite trabalhar com atenção e proveito), ainda se diverte.Qual o professor que não teve já uma/muitas turma/s destas ou pior? Como resolver tal situação? Não é fácil e não há receitas. No entanto, há condições a obedecer:- definir regras claras e consequências a aplicar quando elas são desrespeitadas;- identificar bem os problemas, os tipos de comportamento e os alunos que os executam, os que os estimulam e os que se controlam;- envolver todos os parceiros interessados: alunos, professores, família (e outros, eventualmente, como a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, médicos ou psicólogos acompanhantes dos alunos, Serviço de Psicologia e Orientação da escola).Turmas como esta têm sido recorrentes ao longo da minha vida profissional. Não caberia neste espaço o relato das estratégias utilizadas com elas e de outras tantas possíveis de utilizar. Passarei a correr pela tal definição de regras por alunos e professores e das consequências do desrespeito pelas mesmas; pelo contacto frequente com os encarregados de educação e seu envolvimento no acompanhamento dos seus educandos; pelos contratos de comportamento estabelecidos entre aluno, professores e EE; pelos registos de comportamento aula a aula, por vezes associados a esses contratos; pelo estabelecimento de pares de entreajuda, em que um aluno responsável e bem comportado ajuda outro a resolver os seus problemas (de comportamento, de dificuldade de concentração, de execução das tarefas). Para o próximo artigo deixarei a descrição mais pormenorizada de uma outra estratégia, que surtiu efeitos muito positivos na modificação dos comportamentos disruptivos e na entreajuda e coesão da turma para atingir esses objectivos.

SUGESTÕES DE TRABALHO

Formação Cívica: sugestões de trabalho
Armanda Zenhas 2002-02-11
É interessante observar o prazer com que os alunos se envolvem neste tipo de jogos. Eles são levados a ver os outros de uma forma positiva e a verem os aspectos que os outros consideram positivos em si. Fomenta-se a tolerância e promove-se a auto-estima.
É frequente o surgimento de brigas e de insultos entre os alunos. Às vezes eles deixam marcas que demoram a passar. Há alunos que não se sentem apreciados pelos outros e, quantas vezes, não o são também por si próprios. Há alunos que são muito impulsivos, que têm dificuldade em tomar a perspectiva dos outros e atribuem acontecimentos insignificantes a más intenções dos colegas. Na aula de Formação Cívica podem ser desenvolvidas actividades, tais como jogos e dramatizações, que tenham como objectivo reforçar o conhecimento inter e intrapessoal, orientado para os aspectos positivos de cada indivíduo. É esse o objectivo das actividades aqui sugeridas.1ª actividade:Um aluno sai da sala. A turma refere aspectos que aprecia nesse colega, os quais são registados no quadro. O aluno é chamado e tenta adivinhar quem referiu cada um dos aspectos mencionados.Convém estabelecer um número fixo de referências a fazer sobre cada aluno, para que não haja diferença entre eles. Regras fundamentais a respeitar:- Só podem ser referidos aspectos positivos.- Ninguém pode troçar nem ser indelicado ou desagradável.2ª actividade:É necessária um bola pequena e leve, que será lançada de aluno para aluno, ou um objecto que sirva de testemunho, que irá passar de mão em mão. O professor lança a bola para um aluno, ou passa o testemunho para o primeiro aluno de uma das filas. Este irá referir um aspecto positivo de um colega da turma, felicitando-o por ele ou agradecendo-lho. Em seguida lançará a bola para um colega ou passará o testemunho àquele que estiver mais próximo. Repete-se o procedimento.Regras:- Se um aluno não quiser mesmo participar, poder passar a bola ou o testemunho, sem se pronunciar. Contudo, convém incentivar a participação de todos.- Ninguém pode referir aspectos negativos.- Não pode haver reacções negativas (verbais ou não verbais) ao que cada aluno diz.Exemplos de apreciações que podem ser feitas pelos alunos:- Obrigada, Susana, por me teres telefonado quando eu faltei.- Eu gosto de jogar futebol com o Albano. Ele respeita as regras e não anda à pancada.É interessante observar o prazer com que os alunos se envolvem neste tipo de jogos. Eles são levados a ver os outros de uma forma positiva e a verem os aspectos que os outros consideram positivos em si. Fomenta-se a tolerância e promove-se a auto-estima. Passo a passo, vão sendo criadas condições para que as relações interpessoais na turma sejam melhores, com a diminuição de conflitos e a sua resolução de uma forma mais adequada.Sugestões de leitura:Alcântara, J. A. (1997). Como Educar a Auto-estima. Lisboa: Plátano Edições Técnicas.Brandes, D. & Phillips, H. (1997). Manual de Jogos educativos. Lisboa: Moraes Editores.Marujo, H. A., Neto, L. M., & Perloiro, M. F. (1999). Educar para o Optimismo. Lisboa: Editorial Presença.

MANUAL DE FORMAÇÃO CÍVICA: APRENDER A CRESCER

Aprender a Crescer - Manual de Formação Cívica
(incluindo jogo pedagógico)
de Ana Isabel Garrido; -->ilustração de Inês Massano Cardoso -->
Edição/reimpressão: 2007
Páginas: 62
Editor: Mar da Palavra
ISBN: 9789728910273


Sinopse
"Aprender a crescer - Manual de Formação Cívica" é uma obra que se dirige, sobretudo, aos alunos dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico. Resulta de cinco anos de coordenação das actividades desenvolvidas no âmbito da Formação Cívica, numa escola do concelho de Pombal (Instituto D. João V), com cerca de 1600 alunos. Constitui um conjunto de actividades que abordam a educação e a clarificação de valores, atitudes e afectos, a democracia, a vida saudável, a educação ambiental e a solidariedade. O jogo "Aprender a crescer" foi criado especificamente para estas aulas, embora possa também ser jogado em família ou em grupos de amigos. Ajuda professores e alunos a comunicar e a reflectir sobre assuntos do seu agrado ou que os preocupam particularmente. Os temas do jogo foram sugeridos pelos alunos em anos anteriores. Alguns deles são bastante "leves" - "Moda", "Ambiente", "Desporto", "Profissões", "Comportamentos de risco" - outros, porém, seriam difíceis de tratar formalmente durante as aulas, uma vez que, embora sejam do conhecimento dos adolescentes, podem ser muito íntimos - "Educação sexual", "Sentimentos", "Violência doméstica", "Relação pais e filhos".